O historiador José Hermano Saraiva morreu hoje aos 92 anos.
José António Crespo, produtor do historiador, confirmou à RTP que o
falecimento aconteceu, ao final da manhã, na sua casa no distrito de
Setúbal, de doença prolongada.
"Ardeu uma biblioteca" afirmou José António Crespo, que trabalhou ao longo de 20 anos com o historiador.
José Hermano Saraiva nasceu em Leiria, no dia três de Outubro de 1919,
terceiro filho de José Leonardo Venâncio Saraiva e de sua mulher Maria
da Ressurreição Baptista.
Era professor e historiador, tendo-se licenciado na Universidade de
Lisboa, em Ciências Histórico-Filosóficas em 1941 e em Ciências
Jurídicas, em 1942. Foi ministro da Educação entre 1968 e 1970,
período durante o qual enfrentou a crise académica de 1969. Seguidamente
foi embaixador de Portugal no Brasil, entre 1972 e 1974.
José Hermano Saraiva iniciou a vida profissional como professor no
ensino liceal, tendo sido diretor do Instituto de Assistência aos
Menores e reitor do Liceu Nacional D. João de Castro, em Lisboa.
Foi ainda professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política
Ultramarina, tendo acumulado a vida letiva com a advocacia. Deputado à
Assembleia Nacional durante o Estado Novo foi ainda procurador à Camara
Corporativa.
Colaboração com a RTP
Nas últimas décadas José Hermano Saraiva distinguiu-se pela sua
colaboração com a RTP, em programas sobre a história de Portugal,
apresentados de uma forma muito própria e expondo teorias por vezes
contestadas no meio académico.
A colaboração com a RTP começou em 1971 com o programa "Horizontes da
Memória", tendo nesse ano recebido o Prémio da Imprensa para o Melhor
Programa do Ano.
Foi ainda autor e apresentador de "Gente de Paz", que assinalou o seu
regresso à RTP em 1978, "O Tempo e a Alma", "Histórias que o Tempo
Apagou" e "A Alma e a Gente".
Extremamente popular, acabou no 26.º lugar, no concurso da RTP os Cem Grandes Portugueses, ganho por António Oliveira Salazar.
História com histórias
Um dos livros mais conhecidos de José Hermano Saraiva, é a "História
concisa de Portugal", já na 25.ª edição, com um total de cerca de 180
mil exemplares vendidos. Editado pela primeira vez em 1978, a obra foi
traduzida em espanhol, italiano, alemão, búlgaro e chinês.
O livro foi escrito durante o exílio a que o professor se impôs na
Nazaré, a praia da sua infância, durante o PREC (Período Revolucionário
em Curso), em 1974-75, a convite do editor livreiro Lyon de Castro.
José Hermano Saraiva dirigiu também uma outra História de Portugal em
seis volumes, publicada em 1981 pelas Edições Alfa. O professor e
historiador era um autor prolífico, tendo escrito ainda mais de 25
livros nas áreas de História e da Jurisprudência.
"Uma carta do Infante D. Henrique", "O tempo e alma", "Portugal -- Os
últimos 100 anos", "Vida ignorada de Camões" ou "Ditos portugueses
dignos de memória" são alguns dos exemplos de obras sobre História.
"A revisão constitucional e a eleição do Chefe do Estado",
"Non-self-governing territories and The United Nation Charter" e
"Apostilha crítica ao projecto do Código Civil" e cinco outros livros na
área da pedagogia, são outras obras assinaláveis.
Irmão do também professor António José Saraiva e tio do jornalista
José António Saraiva, José Hermano Saraiva foi casado com Maria de Lurdes de Bettencourt de Sá
Nogueira, sobrinha-bisneta do 1.º Marquês de Sá da Bandeira, com quem teve
cinco filhos.
Pelo lado da mãe, José Hermano Saraiva é sobrinho de José Maria Hermano
Baptista, o último veterano português sobrevivente, que combateu na
Primeira Guerra Mundial e que faleceu com 107 anos, em 2002.
Distinções
Após a instauração da democracia, José Hermano Saraiva regressou a
Portugal e lecionou como professor convidado no atual Instituto Superior
de Ciências Policiais e de Segurança Interna e na Universidade Autónoma
de Lisboa.
Foi ainda membro da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia
Portuguesa da História e da Academia de Marinha, membro do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, no Brasil e Sócio Honorário do
Movimento Internacional Lusófono.
Recebeu a Grã-cruz da Ordem da Instrução Pública, a Grã-cruz da Ordem do
Mérito do Trabalho e a comenda da Ordem de Nossa Senhora da Conceição
de Vila Viçosa, em Portugal, além da Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco do
Brasil.